(Reprodução da capa do Cd) |
Foi justamente o “encanto” proposto no título que tornou a novela “Cordel Encantado”, da Rede Globo, um fenômeno não apenas de crítica e audiência, mas também no próprio empenho em se fazer televisão no Brasil. Os formatos convencionais das telenovelas fazem a trama de Duca Rachid e Thelma Guedes se destacar, chamando atenção desde a tecnologia que capta as imagens em altíssima definição, até a apropriação de uma narrativa em tom de fábula, que remonta um Nordeste fantasioso, apresentado em formato de minissérie. O avanço estético da novela, somado a essa atmosfera de fantasia alimentou outro produto bastante interessante vinculado ao seu universo: a trilha sonora.
As músicas de “Cordel Encantado” contribuem para alimentar sua narrativa fantástica através de sonoridades e temáticas voltadas para um Nordeste entre o brejeiro e o psicodélico. Quase todos os artistas que estão no disco recém-chegado às lojas, são também nordestinos. E trazem, cada qual, referências distintas que mostram a grandiosidade do mosaico da música nordestina, para lembrar que a região saiu, há tempos, do clichê do triângulo, zabumba e sanfona. Músicas que mostram que o “regionalismo” nem sempre diz respeito a um compartimento reducionista.
Pernambuco está presente na trilha através de oito artistas. Chico Science e Nação Zumbi marcam presença com sua emblemática “Maracatu Atômico”, assim como Luiz Gonzaga também é escalado com um dos medalhões do seu repertório, “Xamêgo”. De Lenine, foi selecionada “Candeeiro Encantado”, canção de temática regionalista que narra as desventuras de Lampião e a “lei do cão” do Nordeste cangaceiro. Um contraponto interessante com a melodiosa e melancólica “Na Primeira Manhã”, de Alceu Valença, uma das pérolas do icônico álbum “Coração Bobo” (1980).
Otto surge com uma versão visceral de “Carcará”, canção de João do Vale famosa na voz de Maria Bethânia, e Karina Buhr resgata, de forma muito carismática, a embolada “Tum Tum Tum”, de Jackson do Pandeiro. Silvério Pessoa também vem com uma embolada, “Rei José”, de sua autoria. A última pernambucana presente na trilha é Núria Mallena, compositora e intérprete da balada “Quando Assim’’. Ela é natural de Ouricuri, mas vive no Rio de Janeiro, onde, atualmente, finaliza a gravação do seu disco de estreia.
Fora Pernambuco, o Nordeste segue representado por Gilberto Gil, que encontra a potiguar Roberta Sá no dueto “Minha Princesa Cordel”, tema de abertura de “Cordel Encantado”, que através da estrutura de um folheto de cordel narra a trama da novela. Ainda da ala baiana, Caetano Veloso vem com um dos seus medalhões, “Circuladô de Fulô” (parceria dele com o poeta Haroldo de Campos), enquanto Maria Bethânia recria o tema brejeiro “Estrela Miúda”, clássico de João do Vale. “Melodia Sentimental” representa Alagoas através de Djavan e a indefectível “Chão de Giz” surge na voz do seu dono, Zé Ramalho, da Paraíba.
“FORA DO EIXO”
A trilha de “Cordel Encantado” conta ainda com três cantores que não pertencem à região, mas que trazem nas suas canções um leve toque regionalista. É o caso da simpática “Bela Flor”, da paulista Maria Gadú e “Coração”, da carioca Monique Kessous. O gaúcho Filipe Catto, famoso na nova cena independente da MPB, surge com seu bolero dramático “Saga”, carro-chefe do seu EP homônimo. Seu timbre remete muito ao de Ney Matogrosso e a qualidade do que já apresentou até agora, junto com a visibilidade que está conseguindo com uma música na novela, pode ajudar no seu merecido reconhecimento nacional.
Serviço
Trilha sonora de “Cordel Encantado”
Som Livre
Preço médio: R$ 24
FONTE: folhadepernambuco.com.br
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