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Atualmente presidente da Federação Internacional de Cineclubes, Antonio
Claudino de Jesus participa pela primeira vez do Festival de Cinema de
Triunfo, como parte do júri de longa-metragem. Aproveitamos a
oportunidade para conversamos um pouco com ele sobre suas expectativas
para o evento pernambucano, que está apenas começando, e fazer um
panorama sobre a realidade da ação dos cineclubes no Brasil.
Festival de Cinema de Triunfo – Estando à frente da Federação
Internacional de Cineclubes, qual a importância de estar próximo não só
aos cineclubes, mas aos produtores e realizadores, como agora neste
festival?
Antonio Claudino de Jesus – É da maior importância, para a
Federação Internacional de Cineclubes (FICC), manter contato direto não
só com os cineclubes, mas também com festivais, onde são exibidos os
filmes mais recentes e com uma diversidade riquíssima. E especialmente
com os realizadores/produtores, pois o movimento cineclubista se nutre
das obras audiovisuais para encontrar seu público e realizar o instante
mágico da arte que é o encontro com o público, numa perspectiva crítica e
de organização do exercício da cidadania, para além do entretenimento
sadio, que é também fundamental. O exemplo disso é Pernambuco, que
paralelo ao incremento da produção, tem políticas públicas concretas
para o escoamento desta produção ao encontro do seu público e isso está
materializado na Federação Pernambucana de Cineclubes, que também é
destaque nacional na organização do movimento.
Festival de Cinema de Triunfo – Após muitas tentativas finalmente participas do Festival de Cinema de Triunfo. O que espera dele?
Antonio Claudino de Jesus – Infelizmente ainda não participei do
Festival de Triunfo, embora tenha sido convidado nos últimos anos, mas
compromissos anteriormente assumidos ou emergentes me impossibilitaram.
De forma que é um grande prazer poder estar no festival este ano. Porém,
tenho as melhores informações acerca da importância de sua realização,
através de companheiros que dele participaram nas últimas edições.
Festival de Cinema de Triunfo – Quais as expectativas para o
festival? No quesito longa-metragem, algum comentário sobre os filmes
que serão exibidos ou são novidades para você?
Antonio Claudino de Jesus – Minha expectativa é grande e recheada
de curiosidade quanto à beleza e à qualidade das obras que serão
exibidas, tendo como parâmetro as últimas edições do festival, que
acompanho mesmo que a distância. E Pernambuco tem se destacado no
cenário nacional e internacional, tanto pela produção local, como pelas
oportunidades que tem oferecido à produção nacional, ricas em
diversidade e grandiosas na qualidade. Outra peculiaridade da minha
participação neste festival é que cerca de 80% dos filmes que irei
assistir vou ver em primeira mão, pois mesmo participando de vários
festivais, não só como representante da FICC, mas como integrante dos
júris, não tive a oportunidade ainda de vê-los.
Festival de Cinema de Triunfo – Quais os desafios para a atuação dos cineclubes hoje em dia?
Antonio Claudino de Jesus – Hoje o grande desafio do movimento é a
luta pelo direito do público. O direito ao acesso à cultura em toda a
sua diversidade e de todas as nacionalidades, como alimento da
cidadania.
Festival de Cinema de Triunfo – Como membro da FICC, é possível descrever o perfil dos frequentadores de cineclubes no Brasil?
Antonio Claudino de Jesus – São muitos os perfis. Os cineclubes
são tão diversos como diversa é a sociedade humana. Temos cineclubes
cujo perfil do público é de crianças, de bairros de alta/média condição
financeira até os menos favorecidos econômica e socialmente, assim como
temos cineclubes temáticos (ambiental, esportivo etc.), ligados a
movimento sociais como os Sem Terra, quilombolas, indígenas, à questão
da mulher, o movimento LGTB, enfim... Um cineclube se estabelece quando
se identifica com o local, com os cidadãos locais e suas lutas; enfim,
quando ele se identifica com o seu público. A alma do cineclubismo é o
público e o alimento são as obras audiovisuais em todas as suas formas,
suas diferenças e sua diversidade.
Festival de Cinema de Triunfo – Qual a sua visão sobre a atual produção brasileira?
Antonio Claudino de Jesus – A produção audiovisual brasileira
sempre foi muito qualificada, rica em diversidade e engajada com as
realidades locais, nacionais e mundiais. Desde o seu nascedouro. Não
dando importância a uma linha de produção que tenta se transformar na
Hollywood (aquele bairrozinho de Los Angeles que domina o mundo) do
Brasil, só temos a festejar. Infelizmente esta riquíssima produção em
todo o País não tem como escoar e ser acessada pelo público pelo domínio
das majors, que nos massacram com uma estética única, impositiva
e que ocupam todo o sistema de exibição. Aí entra a importância dos
cineclubes, mais claramente na formação e organização do público, e dos
festivais, enquanto vitrine da produção contemporânea que muitas vezes
apresenta mostras resgatando filmes que historicamente construíram nossa
identidade cultural.
Festival de Cinema de Triunfo – Embora não seja o grupo de filmes do
seu foco, há no festival uma mostra exclusiva para produções realizadas
no Sertão. O que achas disso? Acompanha algo da produção da região?
Antonio Claudino de Jesus – É sensacional! Este modelo tem sido
adotado por festivais em várias regiões do Brasil e é de suma
importância para o escoamento das produções locais e o reconhecimento de
nossa diversidade cultural. A produção pernambucana é importantíssima,
desde os filmes mais antigos até os contemporâneos. A Federação
Internacional de Cineclubes outorga um prêmio, denominado Don Quixote.
Em alguns festivais do mundo e em Évora, Portugal, tive a honra de ver
um filme pernambucano do Kleber Mendonça, o “Eletrodoméstica”, ser
premiado com louvor após ter sido premiado com o Don Quixote no Brasil. O
mesmo posso falar do filme “O Jumento santo e a cidade que se acabou
antes de começar”. Só para ficar em duas produções contemporâneas, com
temas distintos, suportes diferentes, mas com a mesma qualidade e
respeito. Aliás as duas compõem o dvd Prêmio Som Quixote: Curtas
Brasileiros Premiados, num total de seis filmes.
Festival de Cinema de Triunfo – Falar em cultura hoje no Brasil é falar em quê?
Antonio Claudino de Jesus – É falar num momento crítico da
cultura frente ao Ministério da Cultura. É preciso ter consciência para
tomar uma atitude que não seja mais danosa. Um momento delicado que gera
muitas reflexões para se decidir o que fazer e como fazer. E encontros
como esses em festivais é muito bom, porque nos propõe esse momento para
conversarmos sobre essa realidade e refletirmos sobre a tomada de
posição e o papel das entidades e dos atores culturais brasileiros.
Com informações da Assesoria.
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