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domingo, 21 de agosto de 2011
Itacuruba: a terra dos deprimidos - Pequena cidade do Sertão de Pernambuco possui grande quantidade de pessoas depressiva
À primeira vista, Itacuruba, no Sertão de Pernambuco, é mais uma típica cidade do interior. Estão lá a pracinha, a igreja, a prefeitura, o comércio. A vida passa devagar, não há trânsito, nem poluição. No entanto, a aparente harmonia do menor município do Estado (são apenas 4.369 habitantes) não resiste a poucos minutos de observação. O local mais movimentado da área urbana é o hospital.
Ponto de onde são distribuídos (sob prescrição médica) remédios antidepressivos e similares para quase um terço dos itacurubenses adultos. Transtornos mentais, distúrbios de comportamento, depressão. De tão repetidos, os diagnósticos levaram a Prefeitura Municipal a pedir ajuda ao governo do Estado e ao Ministério da Saúde para instalar um centro de acolhimento transitório dedicado exclusivamente a cuidar da saúde mental da população. Uma tentativa de minimizar o sofrimento silencioso de um povo isolado no meio do nada, há 23 anos.
Em 1988, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) deslocou a sede do município de Itacuruba para a posição atual. O local de origem foi inundado pela barragem de Itaparica. A área escolhida para instalar a nova Itacuruba fica a 12 quilômetros da rodovia mais próxima e a quatro quilômetros do Rio São Francisco. Ninguém passa por Itacuruba, apenas quem tem a cidade como destino. A vizinha, Petrolândia, viveu situação semelhante. Os registros da Chesf apontam para 2.297 famílias (aproximadamente sete mil habitantes) transferidas da velha para a nova Itacuruba ou assentamentos em cidades próximas. Por 12 anos, os moradores receberam uma verba de manutenção temporária (VMT) no valor de dois salários mínimos. Em 1999, a fonte secou.
“Com o dinheiro da Chesf meu ex-marido comprou dois carros e uma moto. Nem sabia dirigir. Hoje, a gente vive de aluguel. Não tem nem uma casa pra deixar pros filhos. Não tem mais nada. Isso me dá uma tristeza grande. Vivo à base de remédio”, conta a gari Gildete Rodrigues Nunes, 55 anos. Apesar do mau uso da indenização, Gildete pode se considerar felizarda por ter um emprego.Maioria da população vive na ociosidade, após mais de uma década sem precisar trabalhar para sobreviver.
A secretária de Saúde de Itacuruba, Sandra Cantarelli, tem na saúde mental seu principal foco. Os recursos federais e estaduais para a compra de medicamentos não chegam a R$ 6 mil mensais, mas a prefeitura arca com mais de R$ 20 mil por mês na aquisição de remédios. “Boa parte desse dinheiro é para a compra de psicotrópicos. Temos um número de pacientes acima da média e por isso encaminhamos projetos para o Ministério da Saúde e para a Secretaria Estadual de Saúde solicitando recursos para a instalação de uma casa de acolhimento. Precisamos com urgência tratar as pessoas e não apenas medicar”, asseverou. A prefeitura tem uma residência pronta para receber a casa de acolhimento. Faltam mobiliário, verba para manutenção e profissionais.
Recém-chegado à paróquia local, o padre polonês Janusz Zbroniec, ou padre João, como é conhecido, se impressionou com a apatia da população. Gente de todas as idades sem qualquer ocupação, dia após dia. Em um encontro sobre saúde mental ocorrido na cidade em junho, ele escutou a informação sobre os altos índices de dependentes dos psicotrópicos. “As pessoas daqui foram retiradas de sua terra original por uma força maior. Não houve preparação para a mudança nem tampouco capacitação para lidar com a nova realidade. Com o passar do tempo, muitos perderam a capacidade de superar isso e recorreram aos remédios”, avaliou o padre.
Há dez anos em Itacuruba, a psicóloga Mirthys Dantas também enxerga uma quantidade excessiva de pessoas usando medicamentos psico- trópicos. Em levantamento inicial, a psicóloga encontrou 312 pessoas (sendo 26 crianças) cadastradas para receber remédios da prefeitura. “Sabemos que o número real é bem maior. Não temos uma estrutura para acompanhar tanta gente. Já houve casos de pessoas em surto que ficaram quatro dias amarradas em uma cama do hospital, por falta de alternativa. Dependemos de vagas em Serra Talhada, numa clínica que atende praticamente todo o Sertão. Esses são os extremos. Só que, no dia a dia, muitos pacientes poderiam ser tratados com efeitos mais rápidos e duradouros através da terapia ocupacional e atividades de lazer”, ponderou a psicóloga.
Segundo registros, os transtornos mentais mais comuns em Itacuruba são depressão (41,8%), esquizofrenia (17,8%), ansiedade (12%) e bipolaridade (6,2%). “No total de pacientes catalogados não estão aqueles que fazem uso dos medicamentos dos parentes, os que se automedicam e os que se tratam fora da cidade”, destacou a secretária Sandra Cantarelli.
FONTE: JC Online
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