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domingo, 29 de maio de 2011

SALGUEIRO: Poeta Chico Pedrosa solta o verbo e os versos em escolas e universidade

Foto: PMS


Nascido em Guariba na Paraíba e radicado em Arcoverde, o poeta Chico Pedrosa é daqueles que tem versos e humor nas veias o dia todo. Ele esteve em Salgueiro na ultima quinta-feira (26), participando da programação do Festival Pernambuco Nação Cultural, através da oficina ‘Autor na Academia’. O poeta foi muito festejado por onde passou declamando os seus poemas e de poetas famosos da prosa considerada matuta.
Chico Pedrosa esteve na Escola Estadual Professor Manoel Leite e recitou poemas no final do dia após uma sessão de estudos dos professores. No mesmo dia foi à   Universidade de Pernambuco onde encantou os alunos do curso de Administração do 5ª e do 3ª período com mais poesias e muitos risos a partir da intervenção dos estudantes.
O poeta tem três livros publicados: Pilão de Pedra I e Pilão de Pedra II, Raízes da Terra e vários Cordéis. Já  lançou três CDs com os nomes “Sertão Caboclo”, “Paisagem Sertaneja” e  “No meu Sertão é Assim”. Ao comentar seu processo criativo,  Pedrosa disse que a vida sem poesia não tem graça, por isso vive a produzir versos. “Agradeço esse dom que Deus me legou porque não sei como seria minha vida sem a poesia,” disse.
A obra de Pedrosa ganhou destaque nacional quando em 2003 por conta das apresentações do extinto grupo musical Cordel do Fogo Encantado, quando o vocalista Lirinha que é da cidade de Arcoverde incluiu no repertório uma obra-prima do poeta: “A Briga na Procissão.” Veja poema abaixo.


"Briga na Procissão"
Chico Pedrosa.
Quando Palmeira das Antas pertencia ao Capitão Bento Justino da Cruz
Nunca faltou diversão:
 Vaquejada, cantoria,
procissão e romaria
sexta-feira da paixão
Na quinta-feira maior,
Dona Maria das Dores
No salão paroquial reunia os moradores
E ao lado do Capitão fazia a seleção de atrizes e atores

O papel de cada um
o Capitão que escolhia
A roupa e a maquilagem
eram com Dona Maria
O resto era discutido,
aprovado e resolvido na sala da sacristia.

Todo ano era um Jesus,
um Caifaz e um Pilatos
Só não faltavam a cruz,
o verdugo e os maus-tratos
O Cristo daquele ano foi o Quincas Beija-Flor
Caifaz foi Cipriano, Pilatos foi Nicanor.

Duas cordas paralelas separavam a multidão
Pra que pudesse entre elas caminhar a procissão
Cristo conduzindo a cruz foi não foi advertia
Pro centurião perverso que com força lhe batia
Era pra bater maneiro mas ele não entendia
Devido a um grande pifão que bebeu naquele dia
Do vinho que o capelão guardava na sacristia.

Cristo dizia: ôh, rapaz, vê se bate devagar
Já estou todo encalombado, assim não vou aguentar
Tá com a gota pra doer,
Ou tu pára de bater ou a gente vai brigar.

O pior é que o malvado fingia que não ouvia
E além de bater com força ainda se divertia,
Espiava pra Jesus fazia pouco e dizia
Que Cristo frouxo é você, que chora na procissão
Jesus pelo que eu saiba não era mole assim não.

Eu tô batendo com pena, Tu vai ver o que é bom
Na subida da ladeira da venda de Fenelon
O couro vai ser dobrado
Daqui até o mercado a cuíca muda o som.

Naquele momento ouviu-se um grito na multidão
Era Quincas que com raiva sacudia a cruz no chão
E partia feito um maluco pra cima de Bastião
Se travaram no tabefe, ponta-pé e cabeçada
Madalena levou queda, Pilatos levou pancada
Deram um bofete em Caifaz
Que até hoje não faz nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão,
o cacete foi pesado
São Tomé levou um tranco
que ficou desacordado
Deram um cocorote na careca de Timóti
que até hoje é aluado
Até mesmo São José,
que não é de confusão
Na ânsia de defender o filho de criação
Aproveitou a garapa
pra dar um monte de tapa
na cara do bom ladrão.

A briga só terminou quando o Doutor Delegado,
Interviu e separou: cada Santo pro seu lado
E desde que o mundo se fez,
Foi essa a primeira vez
Que Cristo foi pro xadrez,
Mas não foi crucificado.
FONTE: salgueiro.pe.gov.br

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